AMAR É VÍCIO DE NASCENÇA

Os desejos de dar e receber carinho e atenção amorosa por parte dos afetos de eleição – esta absurda ânsia de compartilhar pele e ossos, o subsumir-se no outro – não são particularidades de uma época, e sim de todos os tempos. A criatura humana prepara-se, amiúde, embebida no prazer e no gozo dos jogos do corpo, para o retorno ao pó da nascença ancestral. É próprio da natureza corpórea o sopro do respirar, comer, beber, excretar e sentir o toque de pele a pele. Sempre com mínimos rumores, como convém a quem aspira viajar sem malas e com pouca roupa sem despertar suspeitas, mesmo que com destino ao crematório dos fuxicos. É bom quando alguém nos alisa espontaneamente o pelo. Há um felino manhoso dentro de nós, querendo mais e sempre, enquanto der e fizer bem aos humores. Nem sempre aos costumes...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5211877