“How awful goodness is!”

Meu desenvolvimento criativo coincidiu com o desabrochar de minha paixão por mulheres, e quando paro para pensar acho isso maravilhoso; não há nada no mundo que eu ame mais do que mulheres. Meu sonho era poder cantar as belezas de todas as mulheres do mundo, retratando-as do modo mais fiel e pitoresco possível – os olhos de uma, as bochechas coradas de outra, a silhueta de outra ainda, queria poder tê-las todas para mim, e ser o único a amá-las. No entanto, só posso amar a uma mulher como Dante as amou; como divindades pálidas e vaporosas, longe de meu alcance, pois a ideia me é preferível à realidade.

E não digo isto num arroubo de romantismo; deixo-o para minhas obras em verso. Digo-o porque é a mais pura verdade, tendo eu jurado que jamais mentiria nesta série de crônicas. Me apaixonei por várias mulheres (mesmo tendo amado tão somente a uma delas), e cada uma foi uma decepção superando a outra – cada uma desfez a ideia que delas tinha, e isso tornou impossível que minha paixão continuasse. Permaneci amigo de uma ou outra, mas até pouco tempo dava mil tratos à cachola para tentar compreender por que me era tão difícil empatizar com as mulheres, mesmo tentando tratá-las com o máximo de carinho possível: cheguei à conclusão que, sendo eu um escritor muito bom, só poderia me unir com uma mulher tão boa quanto eu, e como ela não existe neste plano me é menos custoso idealizá-la a meu bel-prazer – antes isso do que entrar para o rol dos incels e causar mal a pessoas inocentes. Quem sabe, se meu pensamento fosse aceito e tivéssemos mais literatos e menos incels, haveria uma modalidade um tanto mais saudável de loucura no mundo, e os tristes casos de violência contra criaturas tão belas diminuiriam consideravelmente… mas, infelizmente, não passo de um mero arquiteto de utopias, e nada há que possa eu fazer.

Com meu preâmbulo fora do caminho, escolhi a história de hoje dentre meu extenso rol de paixões (que, talvez um dia, se tornará um picaresco romance por si só) levando em consideração que há um certo grau de Schadenfreude em todo o caso – é algo que me faz rir e chorar alternadamente, mas que vale a história apesar de seus pesares; a lição de moral é atemporal, ao menos.

Pois bem – há mais de dez anos travei amizade com uma bela e gentil moça enquanto era forçado a estudar Direito. A única razão pela qual me forçava a frequentar as aulas era para poder vê-la: gostava muito de recebê-la com um abraço, e o primeiro ano em que a conheci foi quase um idílio. Trocamos muitos presentes, e até tínhamos bastante em comum; fui privilegiado de sair muitas vezes com ela, coisa da qual sinto muita falta, mas já não nos vemos por dois motivos: o primeiro é que ela acabou se tornando demasiado burguesa, para meu grande pesar, e o segundo é que já não consigo ter o mesmo afeto que tinha por sua família devido a uma série de desavenças que a esfacelou – e é aqui que entra nossa protagonista de fato: a irmã desta minha antiga amiga.

Galaktion Eshmakishvili
Enviado por Galaktion Eshmakishvili em 18/04/2015
Reeditado em 25/11/2024
Código do texto: T5211563
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