Transtorno Obsessivo Compulsivo.

Eu nunca a vi.

Conheço seu rosto por fotos...

Nunca senti nenhum detalhe do seu corpo, mas sei todos eles de cor.

Como a palma da minha mão.

Ela é perfeita!

Digo... ela é cheia de imperfeições...

O olho direito é maior que o esquerdo, a boca não se alinha às pupilas, o cabelo bagunçado parece ser cortado ao sabor do vento...

Meu Transtorno Obsessivo Compulsivo me fez notar cada uma das suas imperfeições.

Ela não fala o português corretíssimo, nem toma cuidado ao escrever.

A voz dela solta harmônicos que fazem minha espinha gelar, quão dissonantes podem ser.

As curvas dela não se ajustam aos meus braços, e sua altura não permite que meu queixo fique alinhado nem ao nariz, nem à sua cabeça.

Ela é hesitante, não se preocupa em alinhar, contar, padronizar as coisas.

Ela ignora todo um mundo de possibilidades por simplesmente não conferir se a casa está trancada (duas vezes, com duas voltas).

Ela ignora todas as possíveis interpretações causadas pela falta de uma vírgula.

Ela ignora toda a ansiedade que a falta de um ponto final causa.

Mas, como disse, ela é perfeita.

Quero acordar todos os dias olhando para seu rosto...

Quero vê-la abrir seus olhos diariamente ao meu lado (direito)...

Quero ser o motivo de seu riso ultrapassar os limites de qualquer proporção facial...

Quero poder passar a mão em seus cabelos bagunçados até ela cair no sono...

Quero receber todas as cartas, mensagens, lembretes e bilhetes que escrever...

Quero, a cada dia, escutar sua voz me dando bom dia, e me causando arrepios de amor...

Quero abraçá-la até que meus braços se ajustem ao seu corpo e meu queixo se caia para que possamos estar alinhados...

Quero protegê-la de todas as faltas de alinhamento...

Quero te ensinar a contar todos os nossos dias juntos...

Quero que me ajude a padronizar as coisas dos nossos filhos...

Quero trancar todas as portas de casa, não importa quantas vezes, para saber que estamos seguros...

Quero que nossa história não tenha vírgulas...

E quero que nosso Ponto Final esteja bem longe... Bem além dos limites da morte.