Mudanças

Sigo dormindo às raspas. As horas teimam em serem tão longas que quase alcançam os galhos das casas vizinhas. Pode ser que seja apenas um acaso, um contratempo, um desacato. Pode ser que a flor-de-lis esteja prestes a desabrochar, ou que um punhado de lagartos venha borboletear. Costumo acreditar no que puder voar: num sonho, numa espera que assanha, numa estrela-ascendente, no repor do sol. Mesmo se for noite alta onde a calma inversa no olhar e desiste o desejo, há sempre uma manhã que inventa uma cor que antes não havia, que mistura azul com verde depois pinta de vermelho. Há sempre um jeito diferente. O segredo é desacostumar.