A condenação

Um belo dia, num pais distante, condenaram-me a viver eternamente num poema sitiado de amor. Perguntei de logo e pronto: fosse um poema de prosa, quero mil litros de tinta e uma pena bem grossa; fosse um poema de rima, que me trouxessem dois barcos que descem em rio acima; se uma aliteração, queria dois pés bem grandes e um espalmo de mão; mas se fosse um soneto, que tenham todo o respeito com a minha solidão. Confusos, eles pediram que eu escrevesse em carta toda a minha precisão. Eu disse que não sabia nem mesmo o que acontecia dentro do meu coração. Então um senhor bondoso me disse todo dengoso: vá tomar no seu botão.