NA MEMÓRIA DA PELE

O poema veio madrugador e a turbulência emotiva foi segredada pelos alter egos só pra confirmar o quanto vale o que se registra na epiderme e o mais profundo que se aninha por baixo dela – injeção de sangue e sêmen transfigurada em energético – o pulsar arterial. A implosão sexual é o sempre inusitado surto: o expulsar dos fantasmas através do qual se espera o mais fundo prazer sacralizado e humano, o mais prolongado possível. O poema lírico-amoroso é resposta a estes estímulos. Coladas ao corpo as silhuetas pictóricas, expectantes, ágeis do pescoço aos pés. Unidas pelo ventre, gêmeos siameses, em quem os chacras espiam e se insinuam para fruir a temperatura do gozo – o prazer de ser e estar. Um renovar sem retorno. Porque único a cada vez em que se exaure. Furto insone aos desejos que povoam a ausência do despertar no day after. Estímulo de molécula a molécula sempre renovado. Nele vicejam centelhas a inspirar vida em sua inocência de animal humanamente racional. E expira em nós a próxima vez: tatuagens que se consomem lá dentro. Na memória da pele.

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5197648