REGALO DO POEMA


Gosto mesmo é de escrever poemas, cuja linguagem, à mim, reflete a capacidade do escritor de sintetizar, de compactar, somando o esmero na utilização das mais adequadas expressões e ainda com a sutileza e o bom gosto de manter os versos com agradável sonoridade entre si.

Exige mais; exige a inteligência criativa do uso das metáforas, que emolduram o poema, sem perder a simplicidade e a compreensão do sentido do tema, da mensagem, do mote.

Pena que a grande maioria das pessoas, mormente os homens, avacalham com essa linguagem, com esse formato de comunicação, de arte. Assim como semelha bobagem o olhar sereno, atento e deslumbrado de uma pessoa inteligente qualquer à poesia contida numa criança brincando do playgrond, aos pseudos práticos, falsos insensíveis, a linguagem dos poemas soa piegas o requinte da junção das palavras que traduzem o sentido resumido dos sentimentos.

Ultimamente, contudo, tenho tido extrema dificuldade de escrever poemas dentro daquilo que entendo conter a qualidade poética, gramatical e a singularidade que valorizo nos poemas. E não me frustro, nem tampouco me sinto menor ao confessar essa quase incapacidade. Muito ao contrário, vejo-me elevado ao pico de reconhecer a grandeza dos poemas e tudo de capacidade e arte que ele requer, que ele exige e que nós poetas a ele devemos.

Escrever textos outros, é um refúgio. É assim como pescar lambari ao invés de Sargo, diante do nosso reconhecimento de que o lambari é presa farta e abundante, enquanto o sargo exige toda técnica, disposição, habilidade e disposição que nem sempre temos a oferecer a esse mundo tão carente de esmero e orgulho pelo fazer bem feito. A esse mundo que está devendo devoção e valor ao que tem valor. O poema bem construído é pote de ouro reluzente e invisível aos olhos dos incrédulos à vida.

Sim. Sim e sim. Escrever poemas exige muito mais que conhecimento, que domínio gramatical. Muito mais que um vocabulário plural. Exige muito mais que a simples arte da comunicação escrita. Mais que a criatividade do rico imaginário. Exige inspiração, sensibilidade e leveza, nessa arte de costurar versos concatenados e bonitos. Sensuais e elegantes. Aos tolos ofereço o chumbo, pesado, fosco e frágil.

Assim é que tenho me limitado a escrever crônicas e textos outros, como este. Que dispensa a acuracidade e a sintética dos poemas, mesmo que a poesia se apresente, escondida na ausência da lindeza do poema que é o meu regalo.