NINGUÉM É DE FERRO

O intimismo relata-se por si: fazes falta ao meu corpo, te gosto muito... Teu sexo me fala amorosamente na mais densa e humana contingência. Sinto-me muito másculo em tua desejosa companhia. Não sei se tal constatação pode ser entendida como lisonja ou elogio. Porém, é efetivamente muito agradável sentir-te assim, nessa quadra insólita do viver mais de sessenta outonos. Estou, na pureza de reservas e cochichos, de mãos limpas, e com todos os humanos e severos defeitos (e preceitos) da gula do prazer. Àqueles a que ninguém escapa e aos quais tentamos superar e sobreviver a duras perdas. E se morre de vontade de pecar a mais não poder, enquanto ainda há tempo, gozo e fruição. Porque nestes domínios da fome do corpo, mais que tudo, ninguém é de ferro...

– Do livro POESIA DE ALCOVA, 2014/15.

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