GOZOSOS MISTÉRIOS
Somos todos condenados ao pensar, enquanto aprendizes de feiticeiro. Todavia nos resumimos quanto aos desejos e anseios insatisfeitos. Conheces um poeta que cante (permanentemente) o afeto que ele tem ao alcance da mão? O vate, na lira amorosa, canta o objeto de seu desejo: aquele que ele não possui. No entanto, isto é tão compreensivelmente humano, mas ao mesmo tempo tão dificultoso de se corporificar como expressão da palavra poética... Porque Poesia não compactua com o intimismo, que é do âmbito privado. O poema (com Poesia) tem de ser servido antropofagicamente aos amantes de todos os tempos. A começar pelo desafio do "eu e tu" e lograr a transfiguração para o âmbito público, para todos os receptores. Ah, quão impertinente é este gozoso mistério do amar e seus inusitados jogos! O poema é apenas um deles, em que a palavra é flor e gume.
– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2014/17.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5195469