Modernidade

Dormem os deuses quando tua existência tem início. Como uma máquina tu destrói o humano. Destrói sua imaginação, sua sensibilidade. Homens,antes afetados pela melancolia, tornam-se seus escravos. Em uma dependência de morte.

Tu és a bela face do nada. Metálica, torna-os insetos sedentos de serem percebidos. Um jogo pela atenção, uma crueldade passiva. Sem dar um passo tu matas, tu escravizas e tu destrói.

Teu som não é suave, é terrível. Carregada de uma freneticidade inaudita aos ouvidos desalmados de homens sem espírito. Surdos. Cegos. Angustiados! Sois o ocaso e o grito da Medusa. O fim de tudo que é humano por excelência. Tu substitui o outro e destrói o uno. Contigo o homem se lapideia murmurando ingenuamente o seu canto fúnebre.

És útil e bela, sim! Mas és mortal, indócil, polidamente selvagem. Mulher! Ou máquina. Humanos são inferiores a ti, oh, rainha da razão. Triste é quem cruzar teu caminho, torna-se louco, dúvida de suas certezas, se perde em sua imensidão reflexiva e inerte, e se destrói, pouco a pouco. Homens! Tão inferiores a ti. Em sua gênese não supuseram serem destronados pela criatura. Criatura ingrata. Malévola. Ambiciosa. Teu poder é absoluto. Imperiosa, mãe da quimera da nossa nova existência. Existência. Ex-sistir. Sobreviver. É a isso que nos relega, que tu nos ensina, mas tu não nos aproxima. Nos distancia! Faz-nos supor alcançar sua atenção, seu bem-querer. Teu bem-querer em tua vaidade é o sangue do justo. O louco...