UM HORIZONTE A SE DESCOBRIR

Não tenho mais para onde olhar

O horizonte já se esgotou

Sua vastidão ficou demasiada modesta

Para tão grande sentimento de prisão

Que invade meu peito agora.

Quero sair voando para um lugar

Onde não existam os grilhões que me acorrentam

Meu ser está extasiado de tanta mediocridade que me cerca

Já não caibo em mim mesma.

Me sinto um ser que não coabita com meus semelhantes

Acredito que deva haver algum lugar nesse universo tão vasto

Que existam seres como eu:

Ávidos por liberdade, por pessoas gentis e singelas

Que enxerguem beleza nas coisas mais simples

Que entendam o sentido de um bom livro

De um bom filme, de um bom dedo de prosa

Daqueles que não se deixam levar pelas mesmices cotidianas

Dessa vida, desse mundo tão limitado, embora consideradas as tecnologias

Tão avançadas e tão interativas.

Mas estas são simplesmente superficiais, fúteis,

Hoje a efemeridade é uma doença

Arraigada dentro de todos os seres que habitam esse lugar.

A generosidade deu lugar à individualidade

A mesa partilhada, à ganância

A humildade, à arrogância,

O amor, ao descaso ao próximo.

E eu, não quero um mundo assim, não quero pessoas assim.

Não me servem acordos diplomáticos, cercas e muros

Não me servem boas regras de convivência

Não me serve calar para não desencadear desafeto

Não me serve ser mais um fantoche, dentro desse sistema

Que nada mais é que um mundo de hipocrisia, deslealdade,

Quero saber com quem eu falo, a quem me dedico, a quem sirvo.

Quero saber não apenas seus endereços, sua profissão ou CPFs.

Quero sim, saber que dentro de seu olho está a verdade, a pureza, a entrega ao outro

Quero encontrar você, que eu sei que está a pensar bem como eu:

Onde é esse mundo, onde estão essas pessoas?