Ôh Mãe !
Hoje eu amanhece com uma saudade danada de mãe!
Mais não é uma saudade assim qualquer não, é uma
saudade macriada devoradora que só praga de gafanhoto
por cima da palha do milho cortando e comendo a folha e
a seiva
E tem mais, saudade assim num cabra macho como eu
não carece de choro soluçado e nem de garapa nas palavras
pra evitar desmaios das lembranças não!
A saudade que possuo é puxada pelas mãos do orgulho, do
afeto e da valentia. É da valentia...! a minha saudade é uma
saudade alegre e valente.
Que ver uma coisa? a minha saudade não dói não fura não
aperta não feri não torce não mofa não cria lodo não mata e
nem amarga.
É uma saudade amorosa e dura que só madeira de lei, forte
que só aroeira. Minha saudade é inspiradora resistente a dor da
falta e da perda.
E quem disse que mãe tá faltando? mãe só faltava se eu não
sentisse uma saudade dessa! mãe tá aqui e agora com migo ela
é meu baú de guardados por isso eu não lhe perdi.
Hoje eu amanhece com uma saudade danada de mãe, essa --
parece que veio por encomenda no gosto do sentimento, uma----
saudade lampejada e veloz vexada por uma benção.
A saudade que sinto é vista pelas janelas e portas da sala de
casa que se estende pelo cumprido de um corredor de acimenta-
do liso e limpo que dá destino a cozinha... a cozinha de mãe!!!!!
fumacenta e cheirosa, fecunda de ingredientes da terra.
A minha saudade é vermelha que nem as brasas do fogão de ---
lenha que queima o dedo, aquece o peito e assa a carne.
Hoje guando acordei banhei meu rosto e um pingo d'água correu
dos olhos pra o queixo, se eu não tivesse sozinho quem tivesse-----
por perto ia pensar que as águas daquela cuia tava chorando o -----
meu choro, dei de garra de uma toalha e enxuguei o choro das -----
águas daquela cuia.
A minha saudade é sossegada, carrancuda maciça enxuta e -----
abençoada, saudade que retorna para o meio do meu recreio pa-
ra o cheiro da minha lancheira e o gosto de "não quero" do xaro-
pe.
A minha saudade as vezes é infantil, mais não é pequena e -----
inocente é saudade grande e forte como catuaba, adubada de su-
rras pra correção e castigo por desobediência, mãe do lado que ----
alisava era um ralo e ela ralou muito pra me fazer homem, me ----
mostrou que o gengibre da vida serve pra curar a garganta das ----
dificuldades.
Essa saudade não é enfeitada de "ai e de ui" não! nem é sau-
dade dengosa, não tem "choro e nem vela" não tem luxo e nem -----
riqueza não.
É mais uma saudade de pé no chão é quase uma saudade -------
plebeia, é uma saudade cangaceira.
É... a saudade hoje esbarrou na minha porta gritando "ôh de ----
casa" e eu lhe recebi, abri a porta e ela entrou, e pra não dizer -----
que fiquei acabrunhado, fitei nela meu olhar reimoso com sintoma
de coragem tomei fôlego e disse bem assim: saudade tu não tá -----
pensando que eu tenho um sentimento choroso não né? e nem que
os meus olhos é chafariz de penúria pra tá jorrando água de dese-
gano. Desde que mãe se foi que tu vez por outra arrodeia meu te-
rreiro feito menino botando sentido no pirulito do outro.
Das duas uma: ou tu não me conhece ou tá se arriscando a co-
nhecer. Mãe uma vez me disse que tu não tem pescoço pra carre---
gar chocalho avisando guando chega, guando menos se espera tu ---
já tá toda esparramada no peito do cristão.
E eu não preciso de muita munganga pra te botar pra fora não!
mais hoje, hoje eu quero que tu fique, tu, eu e... ôh mãe!