Enquanto ardo
Anoitece! Escurece e o murmúrio do vento debruçado nos parapeitos das janelas, pelas casas de moradia, curva-se por sobre teus lábios e despe o som da tua voz em meus ouvidos. E é como se tua pele florisse de minhas mãos e como se uma estrela estivesse nua a despontar na linha do horizonte por sobre a embriaguez de um fim de tarde tépido de abril. Escurece e as nossas confidências espalham-se pelas ruas e apetecem os corpos de desejos enquanto respiramos em nós o derradeiro prazer vertido em luz. Anoitece e espreito teu peito enquanto dormes e meus lábios te cobrem os contornos de silêncio e som enquanto me converto em teu sono e as pitangas em flor povoam teus sonhos e desabrocham o que de ti recolho enquanto ardo e o meu e o teu corpo descansam vestidos de crepúsculo e a noite se despe e os astros fazem sexo no céu.