A Equilibrista

Andava sobre fina corda tecida em devaneios,

E trazia à esquerda e à direita

Sentimentos distintos,

Que a faziam conflituosa demais.

À cabeça, um castiçal com mil luzes,

Que mais se afixava, tanto mais o corpo dançava,

Porque era na dança que as luzes cresciam,

E era o movimento que aquietava o coração.

Nos olhos, imagens amiúde...

De um deles refletia um filme passado,

Do outro, as premonições, anunciações...

Equilibrava as grandezas de olhares além,

Com a pequenez daquilo que era muito aquém do seu presente.

Do punho, antagonismos verseiros...

Ora escrevia doçuras,

Ora escrevia revoltas...

Equilibrava, às pilhas, palavras.

Compunha assim, seus exageros...

Sobre a linha tênue entre idos e vindos,

Loucura e razão,

O santo e o profano,

O silencio e a palavra,

A carranca e o sorriso,

O doce e o amargo,

O choro e o riso,

O morno e o escaldante,

Caminhava a equilibrista.

E na caminhada,

Equilibrava a vida...