O ROMANCE DE JACKES ROUMAIN: "OS DONOS DO ORVALHO"

ATO I

_ Eu me Chamo Manoel e estou de volta à minha terra.Estou com o coração tranquilo porquê vim cumprir o meu destino. Quem fez o meu destino foi a mão desconhecida que tem trucidado os homens. Estudei na escola da vida, indaguei sobre as necessidades dos homens, sobre o direito dos poderosos. A lei do triunfo é o esforço de todos os homens, em torno dele (do triunfo) tem direito a gravitar todas as hipocrisias, todas as instituições.

Mas é necessário que tudo se transforme em ouro..., ouro de justiça, ouro d dignidade, ouro de pureza.

É preciso criar o ouro!

(Annaise entra gingando com uma cesta na cabeça, enquanto Manoel descansa ao lado de um pesado fardo)

_Manoel: Salve!

_Annaise: Bom dia Sinhô!

_Manoel: Vai bem?

_Annaise: Com a graça de Deus.

_Manoel:Eu sou daqui de Fonds-Rouge.Faz tempo que "fui embora"

Espera! Na páscoa vai fazer quinze anos. Estive em Cuba

_Annaise (distraída) Ah! Sim!

-Manoel (olhando em redor) Hoje em dia parece verdadeira maldição

( caminha e coloca-se mais próximo ) A seca destruiu tudo. A terra respira fogo, o horizonte bafeja fogo, fogo depende do céu.O céu e a natureza não conhecem os homens. Passou o tempo sobre oundo e os homens não compreendem. Duro destino viver das cinzas. A fome é a suprema doutrina..., mas quanto estiverem extenuados, os homens, mortos todos os pássaros de céu e bichos da terra alguém virá regar com o orvalho de lágrimas os espinhos que restarem.

Abençoado seja o Deus dos desertos!

_Annaise: Você fala palavras estranhas, sinhô.

_Manoel: Você entenderá um dia.

( pensativo) Hoje é dia de feira?

_Annaise: Sim! na Croix des Bouquets.

_Manoel: É uma grande feira...no meu tempo era na Sexta-feira, vinha gente de longe... Havia fartura, mas a terra dá e a terra tira.

_Annaise:Sinhô não é tão velho...

_Manoel: Não é tanto o tempo que faz a gente envelhecer, são as penas da vida; passei 15 anos em Cuba, 15 anos cortando cana todo o dia, Da madrugada ao anoitecer.No começo a gente fica com os ossos moídos como um bagaço.Mas há uma coisa que faz a gente aguentar

_Sabe o que é? _ A raiva. (com os punhos cerrados) A raiva faz a gente fechar a boca e apertar o cinto quando a fome aumenta.O ódio é a justiça e o direito da gente. Com êle ninguém pode.

_Annaise: ( Suspirando) Jesus, Maria_ Para nós, os infelizes, a vida a vida é uma caminhada sem perdão. Negro não tem sorte nem consolo.

_Manoel: Na verdade a gente tem tem um consolo. Eu explico: é o teu pedaço de terra, é o teu pedaço de terra, com as árvores de frutas, teus burros, tuas galinhas, as tuas necessidades ao alcance da mão

_e a tua necessidade_ e a tua liberdade que só depende da estação boa ou má, da chuva ou da seca.

_Annaise: É verdades, mas a terra não dá mais nada, e quando lhe arrancas por acaso algumas batatas, tu as vendes por um nada no mercado. A vida é uma penitência..., é o que é.

_Manoel: Os homens quando se acobardam vão pedir ajuda nas igrejas.

(Annaise não responde, põe a mão no queixo e fica pensativa.)

_Annaise: O dinheiro deu para quase tudo. Eu enteirei o que faltou.

(Entra Santélia)

_Annaise : Como está Santélia?

_Santélia : Não vamos pior não, só que o meu homem está com febre.

Mas isso passa.

_Annaise: Sim, passa com a ajuda de Deus

(Santélia olha de lado e vê Manoel)

_Santélia: Mas vejam só, mas tu não é o Manoel?

Até parece que estou conhecendo!!

_Manoel: Sim, sou o Manoel

_Santélia: Coitada da Délira sua mãe. Ela vai ficar contente. Você não lembra de mim mas lhe carreguei no colo.

_Manoel: E essa aí quem é?

(Annaise finge não entender)

_Annaise: (dirigindo-se a Manoel) Voltaste num tempo ruim, as coisas não andam boas, parece que nós os pobres vamos ter que mudar. Parece que não se pode morrer no chão que é seu. Dizem que é a represa. Não demora muito.

_Manoel:Nossas esperanças... É preciso fazer a água rolar pelo espaço, o sofrimento de todos os dias se fazem comuns, nem se percebe que existe sofrimento. (CONTINUA)