Por mim

Por mim




Por mim, chove
Descansa, desacelera, musica, abraça, habita o vácuo
E consegue-se impedir o rompimento de determinados
parâmetros que de outra forma regras de ordem universal seriam infringidas

Por mim, olhos destreinados ficarão a ver navios
Deixe-me dizer, cavalheiro, isso precisa ser levado em partes,
havendo ou não necessidade de se tirar a sorte

Por mim o quartel de Abrantes abre mão de seu contingente
Tão só fractais de um todo alojados nestes veículos
sublimemente concebidos
Denominados corpos, que devem doravante
Desacelerar, descansar, musicar, abraçar
Deixe-me dizer, madame, são diferentes os dedos de uma mão

Por mim, o convite aos mais sensíveis
Aos maravilhosamente complexos
Aos que se perderam de si por um ato falho
Junto com o poder de todos os seus corações: o físico bombeador,
o emocional bailarino lacrimoso e alegre, e o Imaculado, aquele que contém a chave da essência, pois há uma parte não conspurcada e, afianço, não buscamos, ou provocamos
Não esperamos ou convidamos aquilo a que se
chama discórdia entrar em nossas vidas

Por mim suave é a noite e abdico de todas as manhãs
Acordar como se viesse de outro andaime para abrir os olhos aturdido
Estranhando o fato de estar encarnado
Atualizado há pouco
Sem projetos maiores do que
Desacelerar, descansar, musicar, beijar o vácuo, somente para
Plasmá-lo, moldá-lo, regê-lo
Fazê-lo meu espaço particular

Por mim digo sem receio, cavalheiro, pesada é a cabeça que usa a coroa
Madame, isso virou um lar, assim que você entrou por aquela porta
Por mim eu sou a tela, e o universo apenas algo dentro dela




(Imagem: "A.W Faber's Stationery Catalogue 1897")
Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 25/03/2015
Reeditado em 31/07/2020
Código do texto: T5183344
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