O QUE ACONTECIA ENQUANTO VOCÊ IA?
Era um final de tarde enrubescido, daqueles que o sol fecha os olhos e emana seu púrpura como um anúncio da noite amena que vem chegando e eu estou sentado na beira-da-faixa observando o vai e vem dos carros ruidosos numa BR que vai pra cima. Para o Norte? não, pra cima mesmo: a rodovia me eleva, é uma contradição medonha, o peso do concreto me faz subir, faz enxergar minha vida fora do plano convencional... A noite chega caminhando em seu tapete de estrelas cintilantes, pontinhos luminosos iguais a uma linda árvore de natal toda cheia de mimos reluzentes que representam coisas boas e desejos calorosos de famílias cheias amor e união. Sinto-me unido com o anoitecer, par romântico com a Estrada, sintonizado com a lua, numa jam session com o grilo e até mesmo parte dessa bosta de cavalo verde-escrota que enfeita o acostamento que um dia poderia servir de adubo para as novas sementes que darão lindos frutos, escolhas, sonhos, direções...mesmo que tenham vindo da bosta....e todas essas reticências das minhas orações, frases, sujeitos, objetos e devaneios são apenas a representação simbólica do destino e da vida, do continuar, de quem chega e te ensina sem dizer uma palavra sequer, de quem vai e não volta nunca mais.... gente que não para, não pare, não,não não....não há final certo quando a estrada tem curvas, pessoas e sentidos opostos, não há parada obrigatória, a vida tem que ser um fio condutor sem emendas indesejadas, precisa de um ritmo frenético, sem muitas pausas,lida sem vírgulas, sem muito o que pensar... um carro encosta e te oferece carona enquanto a vida pulsa, nasce e morre todo a instante, a todo todo todo instante...
...e lá na frente, você percebe que não importa onde você chegou, mas o que aconteceu enquanto você ia.