O Que quer que eu seja.
Meu bem, o que tenho por dentro, você nunca vai saber.
De onde venho, a origem do meu tormento,
você nunca há de entender.
Carrego os arroubos da paixão,
sou como vulcão,
minha erupção pode durar segundos.
Sou tempestade,
que traz o mais veloz dos ventos
e transforma o mundo.
Só não sou contentamento, nunca fui.
Nem com, muito menos sem você.
Pode crer que sou contemplamento
e da vida nunca estive a querer grande coisa,
aliás, sou o canto da cigarra que incomoda
e por certo tempo, a paz te rouba.
Não sou moda passageira,
sou ciranda de roda, esquecida,
lenha que chora sua mágoa doída a queimar na fogueira,
mas demora a queimar,
vira brasa,
aquecida por horas a fio.
Sou desafio.
Que aprisiona e liberta,
sou a emoção mais pueril,
mas não nasci para soltar apenas único pio.
Sou o que interfere,
abelha que morre na primeira ferroada,
mas te marca e te fere.
Sei que a vida é passageira
e ao fazer o que me dá na telha, sou como trovoada,
sou intempérie,
vivo sem eira nem beira.
Meu caminho nunca foi de flores,
sou a ave em revoada,
vivo de amores e fujo do ninho.
Sou a perda da mulher amada,
não me delimito
nem em verso
nem em prosa,
mas também sou cerca enfarpada,
sou rosa, sou espinho.
Meu único delito,
é seguir assim por essa longa estrada,
com a alma pela vida entalhada
e um cínico coração, sozinho.