Da arte de dar nomes

É um prazer dar nomes às pessoas, aos animais ou a um poema,

Ah! Isso é tão bom que contrariando as regras damos nomes até para os Haikais.

Imagino o prazer de Adão, tendo toda a crição para nomear.

Dar nomes é batizar, é um ato sagrado.

É como dar a luz.

Penso na alegria dos Pais de Clarisse, quando pronunciaram pela primeira vez o nome Clarisse, Clarisse Lispector. E também nos pais de Alice Estrella, de quem eu li um poema no recanto. Os nomes se tornam partes dos poemas. Marília, Guilherme, Muriel.

Muitas vezes escolho um filme só pelo seu nome. Veja esse, Uma sombra passou por aqui, e esses outros, Noites de Cabiria, O carteiro e o poeta, Morangos silvestres.

Comigo e os livros passa o mesmo. Gosto do nome; O nome da rosa; Em busca do tempo perdido; O jogo das contas de vidro.

Com musica então nem se fala; Wish you were here, Cavalerie rusticana, Para não dizer que não falei das flores.

Quando se escreve um poema pode-se mexer nele por várias vezes, trocar palavras, lixar um verso, colocar mais tinta numa ou noutra coisinha, sem se sentir culpado. Afinal como disse Mario Quintana “Um poema nunca termina”

Mas o que da dor no coração é mudar o nome do poema. É quase uma espécie de aborto tardio.

O nome contém o DNA do poema. Depois que demos, está dado.

Vejam o que acontece com as ruas, não é raro o fato dos políticos trocarem o nome de algumas ruas, ruas que conhecemos desde há muito tempo. As vezes, uma rua onde muitas crianças brincaram e sonharam sob a sombra do nome. É o caso da Avenida Água Espraiada, nome que conduz nosso pensamento para um bucólico vale coberto de Taboas, lírios, pássaros e lindas borboletas. Mudaram seu nome para, Avenida Roberto Marinho, que com todo respeito, pode conduzir nosso pensamento para uma caixa barulhenta, cheia de discursos, políticos e pessoas carrancudas, coladas no sofá da sala.

Ironia sábia é que nos recusamos aceitar, por muito tempo nossa memória se referirá a estas ruas como a antiga - isso ou antiga - aquilo.

Me Deus! E os nomes das plantas então, como são belos. Mimosa pudica a dorme-dorme, a cássia imperial, Caliandra, Russélia.

Ah! Lembrei-me de um poema da Cecília Meireles, Um outro nome bonito.

”Rua da estrela só pelo teu nome eu te amava”

Para alguns os nomes são tão importantes que quando se trata do diabo, si quer se pronuncia o nome próprio, diz se,o cujo,o que não tem nome,o coisa ruim. Riobaldo, o herói do Grande Sertão: Veredas é quem conta.

Isso me lembrou um outro nome musical, Diadorin. Diadorim .

Como podem mudar o nome das coisas e de tudo que aprendemos a amar?

Bom, ainda bem que tudo que alguém amou na infância ficou encantado.