O que fiz da minha vida?

Andei com os loucos pela madrugada em Porto Alegre, discuti com religiosos em templos sagrados de cima da serra, caminhei sozinho na hora do rush na capital federal, fui abraçado enquanto percorria avenidas vazias na Liberdade, escutei o lamentos dos viciados nas ruas de Santa Maria, chorei com os velhos em parques portenhos, trovei freneticamente em vagões de trem barulhentos cruzando o pampa enquanto a lua banhava nossa existência efêmera, passei fome nos desertos sulinos, dividi comida com os mendigos em alguma noite no meio oeste, tive alma de criança tentando entender ações adultas na BR 116, vi o sol nascer na solitude fantasmagórica, porém encantadora de Playa Union, fui gente grande ao perceber o quanto nós todos somos pequenos, dormi em campos abertos em dia de céu fechado lá por onde Judas perdeu as moedas, aprendi a gozar da minha tristeza no calçadão do Leblon, observei a vaidade em Copacabana, travei uma luta diária com o ego em todas as estradas que se sucediam. Agradeci por ser saudável e poder subir uma montanha andina e derramar lágrimas tão salgadas quanto a água da praia de Sereia do Mar, também fui ilha diante do continente, recusei casamento dentro de carro em movimento e fugi de tarados em BH, vi milagres acontecerem em Uberaba, enchi a barriga com tapioca lá na Bahia, corremos de onça no cerrado, contamos estrelas em Barra do Una, senti o gosto do amor na BR 101, sofri na pele as dificuldades que a teoria não me deu em sala de aula, vi a fome, a sede e a falta de esperança em diversos olhares na beira da rodovia, fui andarilho no agreste, fiz acordes em Itatiba, doente em Lagoa Santa, injeções na bunda em Formosa, saltei em caminhões trepidantes, conheci caminhoneiros fantásticos na Argentina, motorista psicótico no Turvo, adotado em Ferraz de Vasconcelos, filho no Santana, pedinte em metrô, Zé ninguém em bairros ricos, ora milionário em casas humildes do sertão, fiz da minha barraca o meu castelo e o do mundo o meu caminho, cheguei ao fim do mundo e descobri um recomeço, fui o mais alegre dos homens quando aprendi a ressignificar a maneira de olhar. Descobri que fazer amigos da caçamba...AH!!!...não tem preço.

Todos os gritos, sussurros, rizadas, assovio do vento, vozes, choros, latidos, miados, grunhidos e farfalhar das árvores ainda ressonam na minha mente e me impulsionam a ir mais um pouco ali adiante, e o melhor, sem nenhum arrependimento.

Arrisquei largar o passado ali onde o vento faz a curva e não olhar para o cume enquanto se está subindo, porque mais importante que chegar lá é manter o olhar aberto e perceber as mais variadas formas de vida ao seu redor à medida que você doa um pouco de si mesmo às causas ainda sem resposta enquanto ruma ao encontro de si mesmo e percebe que tudo muda, até mesmo você.

Minha vocação é Viajar! Isso me faz feliz!

Quem dera todos tivesse essa oportunidade.

Hoje você me encontra nos cantos escuros sentado em pequenas salas de estar pouco iluminadas pertencentes às pessoas que nunca vi ou em largas estradas ensolaradas onde relampejam carros e trovejam caminhões, indubitável correndo atrás de acordes delinquentes que desafinam a opinião pública ou de pessoas suficientemente santas e loucas que explodem vida até mesmo quando bocejam.

Edu Bah.

Edu Bah
Enviado por Edu Bah em 14/03/2015
Reeditado em 15/03/2015
Código do texto: T5169864
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2015. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.