Bella Donna
Quando a noite cai vou-me ao encontro da Bella Donna Nera, para que ela me torture uma vez mais.
O negror de seu vestido compete com o do céu noturno, e vem farfalhando a cada um de seus lentos passos, como uma miríade de corvos numa procissão fúnebre.
A Lua igualmente envergonhada se esconde atrás de uma nuvem; nem ela pode igualar-se ao mórbido palor de minha senhora.
Contemplo seus olhos; vácuos, negros e desprovidos de qualquer emoção que não seja fome por almas, mas que sempre me hipnotizaram e muitas vezes ainda o farão, e submeto-me a seu perfume tóxico e inebriante que leva-me ao Céu e ao Inferno de uma só vez. Cada beijo é uma pequena morte, cada suspiro uma lufada de ópio, cada amoroso toque tornando-se um toque de ódio e vice-versa...
Ainda me trarás a morte com o veneno que destila de teus lábios e de teu ser.
Mas apesar do prazer que me seria receber a morte de uma carrasca tão bela quanto você, não sei se realmente deveria gostar disso.
Deveria?