Floral
Estava claro, era um dia qualquer de primavera
Juntei Petúnias e Margaridas
Colhi Cravos e Rosas briguentos
Cortei o caule de uns Jasmins
Pulei o muro do residencial
Achei uma Heliconia tropical
Tão comuns e tão lindos os Hibiscos
Neles vejo algo de sensual...
E aquele Lírio branco de minha vó
“É o Lírio da paz, pequena” disse ela
E lá estava eu pequena com um grande buquê
Coloquei-las em meio a muito carinho de mãe
Folhas verdes e um laço vermelho
São para mim, todas elas, são minhas agora
Todas dispostas num lindo vaso
Exalam perfume e Aparência magistral
Como é bom possuí-las
São minhas, todas elas
Estarão sobre meu túmulo, tão belas
Um dia, dois
Três dias, quatro
Troca a água, borrifa, ventila assopra
Tira do sol, poe no sol
Pétalas caem
Folhas ficam pelo caminho
Amareladas e negras em tons tristonhos
Não há mais cor, só há morte
Não era um jardim era um vaso
Quebrei-o de raiva
“Porque não conservastes minhas flores”
“Elas deveriam ficar vivas”
“Ficar vivas até a coragem a mim chegar”
Não há coragem, veneno ou faca
Diante de tanta beleza nos jardins alheios
Não consegui mais chorar
Algo em mim dizia “Saia, fique a observar”
Um muro inglês de Hibiscos a tremular
Finos os galhos da roseira com tantas rosas a segurar
Girassóis lentamente a se curvar
Uma rosa comprada, dada por um amor
As orquídeas no canteiro de meu avô
A natureza e a beleza dispostas de graça
Graça eu vejo no meu plano de me enterrar
Sou pequena, mas não sou semente
Sou mais flor, se viva estou e posso sempre desabrochar.