Floral

Estava claro, era um dia qualquer de primavera

Juntei Petúnias e Margaridas

Colhi Cravos e Rosas briguentos

Cortei o caule de uns Jasmins

Pulei o muro do residencial

Achei uma Heliconia tropical

Tão comuns e tão lindos os Hibiscos

Neles vejo algo de sensual...

E aquele Lírio branco de minha vó

“É o Lírio da paz, pequena” disse ela

E lá estava eu pequena com um grande buquê

Coloquei-las em meio a muito carinho de mãe

Folhas verdes e um laço vermelho

São para mim, todas elas, são minhas agora

Todas dispostas num lindo vaso

Exalam perfume e Aparência magistral

Como é bom possuí-las

São minhas, todas elas

Estarão sobre meu túmulo, tão belas

Um dia, dois

Três dias, quatro

Troca a água, borrifa, ventila assopra

Tira do sol, poe no sol

Pétalas caem

Folhas ficam pelo caminho

Amareladas e negras em tons tristonhos

Não há mais cor, só há morte

Não era um jardim era um vaso

Quebrei-o de raiva

“Porque não conservastes minhas flores”

“Elas deveriam ficar vivas”

“Ficar vivas até a coragem a mim chegar”

Não há coragem, veneno ou faca

Diante de tanta beleza nos jardins alheios

Não consegui mais chorar

Algo em mim dizia “Saia, fique a observar”

Um muro inglês de Hibiscos a tremular

Finos os galhos da roseira com tantas rosas a segurar

Girassóis lentamente a se curvar

Uma rosa comprada, dada por um amor

As orquídeas no canteiro de meu avô

A natureza e a beleza dispostas de graça

Graça eu vejo no meu plano de me enterrar

Sou pequena, mas não sou semente

Sou mais flor, se viva estou e posso sempre desabrochar.

Bela Pessoa
Enviado por Bela Pessoa em 12/03/2015
Reeditado em 12/03/2015
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