Ó BEATITUDE!

Ó beatitude!

Ó mais rara linda e bela beatitude!

Das pratas és ouro a fluir pela essência

És a casta e vasta amiga

Da letra mais rala à mais profunda vala.

Ó beatitude!

Escapas-me no átimo no qual em ti penso

Não presumes o irremediável mal a causar na nau que singra

E arfa num horizonte gris de chumbo e violetas rosáceas.

Ó mais magnífica e escultural beatitude!

És a cinza, baixa do holocausto

És ‘portanto’, és ‘quem sabe’

Glorificas tumbas as quais deito sem saber do jeito

Por mais abrandada que sejas, há na mina o cobre olvidado.

Ó minha mais reles ou escarpada forma de dizer ‘que belo’!

Por ti, derramo zomol no mel, embriago o véu

A menos que resolvas, um dia, morrer-te

A menos que saibas do vago bornal à imagem de minha ilusão

Por mais luxo a lhe escapar entre as vísceras...

Choro-te, beatitude!

Mastigo balas de festim nos cantos gregorianos

Lastro nuvens e apeio-as em macérrimo verso

Encantado com teus vértices eólicos, lanço âncora

Contemplado com tua ira cativa de alcova, ranço em chamas.

Ó mais discreta e mundana beatitude!

Sou inerte à tua inobservável pungência, de fé e de alho

Olho os dias rachando, enquanto brota tua era de cadáveres

Não hei em Marte por ti, não hei

Castrá-la-ei por teus irmãos, ó minha majestade!

Por tolher minha face, por escumar meus pecados.

Ó minha mais ébria de lisura, filha do apocalipse!

A ti, não mais recorrerei...

Não carecem meus versos de sua inestimável presença

Serei seu concorrente neste escalada em ramo rente

Numa tarde esguia, semi-manchada, hei de tê-la

E erguerei do féretro a tampa a inundá-la com minha impiedade

Quanta maldade!

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 06/06/2007
Reeditado em 17/11/2008
Código do texto: T516548
Copyright © 2007. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.