A FÊMEA POESIA E O VASSALO ILUDIDO
Em minha singular compreensão da Poesia, esta é donzela insatisfeita. Vive sempre a trocar de silhueta, segundo a força dos ventos que borram (ou não) a escrita dos versos. Fazem parte de sua figuração a pele, cosméticos e perfumes, a boca prenhe de doce lábia, penteados momentâneos, volúveis ao mesmo vento, leves lingeries de moda íntima, tatuagem na pele, sapatos musicais a pisotear com ritmo, graça e leveza. Tudo para ficar mais formosa aos olhos de quem a pretende importante, insubstituível. O Absoluto criou a Poesia assim: intangível, impalpável, a não ser na sua materialidade: o POEMA. Nós – homens poetas – somos apenas o vassalo iludido pelos fetiches inominados. Só nos resta cantar o alumbramento das palavras e seus fogachos de fêmea – todos os dias. E deixar o sol queimar a pele, para o bem do idioma e do ser.
– Do livro O CAPITAL DAS HORAS, 2014/15.
http://www.recantodasletras.com.br/prosapoetica/5162809