Notas do Cotidiano (1)
Nota 1: Loucura, acordei com um grito de socorro ecoando em minha mente. O sono já me domina por completo e não tenho formas de sacia-lo. "Apenas um cochilo seria o bastante." penso com esperança de realizar tal desejo, mas levanto com meu passo lento, vou rumo a pia e lavo o rosto com a água fria que em nada me altera. Mais um dia de trabalho.
Nota 2: Escrevo para aliviar o peso de existir, e, assim como os meus pensamentos, a escrita sai confusa e sombria, talvez por escrever apenas o que penso e evitar expor o que sinto. Exibir a alma nua gera um torpor de se mostrar sensível, devo ser rígido para viver em meios aos homens-animais e ser sensível apenas para mim. Meus pensamentos são a voz da razão, meus sentimentos o grito rouco da loucura.
Nota 3: Vejo a segunda chegando, e com ela vêm o medo de se estar preso em uma rotina. Viver com os movimentos programados é não viver, sorrir sem a vontade de sorrir é não sorrir, e tudo que envolve rotina me deixa assim, vivo por fora mas morto por dentro. Sou artista da vida e enceno todo dia o mesmo papel. Ó homens, deixe-me apenas um dia ser mortal e não consequência de suas vontades.