Máscara

Quando eu coloquei a maquiagem hoje de manhã, me senti pondo uma máscara. Uma máscara por cima da minha ansiedade e resignação. Acreditei em promessas, me deixei confiar novamente, mas meu coração ainda dói. Sinto os remendos ecoarem uma dor oca, agora vazia. Me odeio por isso. Me atingiram muito fácil, sinto-me nua envolta da solidão que me presentearam. Deveria estar dormindo. Pressuposto é que eu esteja, mas não posso. Pesadelos me esperam por trás de minha própria dor. Sei que ela é efêmera e o que sinto são só coisas bobas, solitude adolescente, treva simplória, mas não consigo evitar senti-la. Como muitas, sinto que meus problemas são únicos e sei que com o cantar de uma lâmina eles seriam fáceis de resolver, mas sei que muitas passaram pelo mesmo e sobreviveram. Seguirei então, se meus medos me deixarem, ansiedade se agarrado ao meu peito como uma criança que não quer deixar o seio da mão. Malcriada, essa ansiedade, sem respeito e pudores, coroando meus momentos de felicidade com pontadas agudas de dor. Sinto-me como não pudesse falar com mais ninguém. Pulsos abertos e expostos, sangrando pelo chão branco e formando palavras que eu não queria ouvir, mas nenhuma marca a mostra. Vejo-me no espelho e vejo olhos tristes. Imagino se eles verão quando acordarem, se perceberão meu peito constringir, cortando meu ar e me sufocando em sorrisos e palavras. Imagino, também, se tenho coragem o suficiente para vestir tão bem essa minha máscara. Oh-tão bela Máscara.

Gabriela Matos
Enviado por Gabriela Matos em 04/03/2015
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