Confissão

Era uma noite fria

A Igreja se encontrava vazia

Somente uma senhora

Sentada em um banco do canto

Chorava copiosamente

O Padre chegou perto e perguntou:

_ Posso lhe ajudar?

Ergueu a cabeça a coitada

Estava com a pálpebra inchada.

Assim o respondeu:

_ Senhor Padre preciso me confessar

Pode ficar onde está

Disse o Padre, quando quiser pode começar a falar

A senhora meia assustada

Com a voz um pouco embargada

Lhe relatou. Eu matei, seu Padre.

E o Padre petrificado, lhe respondeu

Conte tudo minha senhora

Coloque os sentimentos para fora

E a mulher começou.

Sou de uma cidade do interior

E quando tinha vinte e três anos

Um moço de outra cidade

Foi para lá trabalhar

Eu tinha um namorado,

E de tanto ele insistir

Terminei o namoro com o outro

E assim o nosso namoro começou

Após cinco anos de namoro e noivado, nos casamos.

Na primeira semana de casada, veio a decepção.

Quando ele não estava no trabalho,

Ficava o tempo todo na rua

Me deixando sempre sozinha

Houve até comentários de vizinha

Após cinco dias do matrimônio

Ele me mandou arrumar uma mala

Com cartas e fotos de mulheres

Datadas poucos dias antes do casamento

Foi grande a minha surpresa

Fiquei desesperada

Pois a confiança que tinha nele acabou.

Mesmo triste com aquele episódio

Não consegui sentir ódio

O vencedor foi o amor

Mas os anos foram passando

E de mim ele distanciando

E a cada promoção que surgia

Ele subia um degrau e me fazia descer dois

Dizia que era importante

E não queria ao seu lado

Uma mulher ignorante

A qualquer coisa que eu reclamava

Vinha a surra de paulada

Já fiquei com a costa inchada

E o rosto também

Com a fivela do cinto nem se fala

Ficava com o corpo marcado

Até de cacetete já apanhei

Quanta surra eu levei!

O Padre que ouvia tudo a interrompeu:

_ Com licença minha senhora

E a lei Maria da Penha?

E ela assim falou:

_ Só funciona para alguns seu Padre.

Fui a delegacia de mulher

E o senhor sabe como é

Vai da profissão do cidadão

A todo instante era interrompida

E por fim me pediram o laudo médico

Sabe o que aconteceu?

O médico legista que ia olhar o meu ouvido,

Cujo tímpano ele havia perfurado

Disse que o aparelho estava estragado

E não havia data para ser consertado

Então a delegada pediu

O prontuário do Hospital que me atendeu

E qual foi a surpresa

O prontuário havia sumido

Notifiquei a delegada

E nada foi resolvido

Então depois de tanto sofrer

Criei coragem e decidi

Sai de casa com meus três filhos

O mais novo tinha apenas dois anos.

Passei a desacreditar nos homens

Porque quando conhecem uma mulher

Parece que são feitos de mel

E com o passar do tempo

São lambuzados de fel

E o Padre perguntou:

_ Você o matou antes de sair de casa?

Não seu Padre, eu não o matei.

Deixei-o livre e parei de sofrer e apanhar

Eu matei foi o amor que por ele tinha

O enterrei em uma funda covinha

Dentro do meu coração

Eu vim pedir ao senhor

Quando celebrar um casamento

Mude o costume e diga:

"_ Que sejam felizes enquanto dure.

Até que o amor acabe."

Creio que não pode haver tanto sofrimento

Assassinatos e impunidades

Porque muitos permanecem unidos

Apenas porque na cerimônia foi dito:

_ Até que a morte os separe.

Então por favor seu Padre

Não julgue as divorciadas

Foi a única solução

Para não serem assassinadas!

Gloria Guedes
Enviado por Gloria Guedes em 02/03/2015
Reeditado em 21/05/2015
Código do texto: T5155664
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