Me afogando a cada gole.
Era uma vez uma garrafa de whisky.
E nela,
meus sonhos, minhas fantasias,
meus pesadelos mais medonhos,
minhas heresias.
Nela havia tudo.
Nela havia você.
A cada gole,
assisto meu submundo criar forma em minha frente,
já não sei se sonho ou vivo a realidade.
A cada dose,
percebo a cruel porção de realidade a me atingir,
tentando fugir,
como se a correr sem sair do lugar.
Sem nenhum êxito,
engulo a seco,
assim sem gelo,
no velho estilo vulgar de cowboy,
tentando matar apenas a mim mesmo.
Sem perceber que ao fazê-lo,
no fim,
é você quem me destrói.
É estranho,
mas ao passo que fico mais bêbado,
mais me entranho nesse bang-bang,
onde cada porção de sangue que toca o chão,
não pertence a nenhum adversário.
Aqui tudo é meu.
Não há inimigo que seja mais rápido,
ou pense mais veloz,
que meu próprio sentimento atroz.
Nesse imaginário,
nessa eterna culpa,
nada mais compreendo.
E lá vem ele!
Negro corsário,
voraz,
dançando com a morte,
a cavalgar em minha direção,
a me tombar em toda minha falsa compreensão vulgar.
E ela,
a culpa,
a galope,
que me derruba, sem precisar de esforço.
Em meu dorso,
tantas marcas.
Marcas que o homem comum não vê, pois não são deste mundo.
A garrafa para além da metade,
me faz reconhecer o bandido travestido com sua bela imagem.
São seus cabelos,
seu rosto de anjo,
mas é fúria que sinto a arrepiar meus pêlos.
Conforme se aproxima, percebo meu fim.
E desejaria não sabê-lo,
mas vens a mim.
E é merecido o castigo.
Que venha todo o mal.
White Horse, leio no rótulo.
No lamaçal onde atolo suas lembranças,
doce ironia,
no devaneio dessa tua herança,
nada de branco se faz,
nele jaz,
a negra cor de minha agonia.