Me afogando a cada gole.

Era uma vez uma garrafa de whisky.

E nela,

meus sonhos, minhas fantasias,

meus pesadelos mais medonhos,

minhas heresias.

Nela havia tudo.

Nela havia você.

A cada gole,

assisto meu submundo criar forma em minha frente,

já não sei se sonho ou vivo a realidade.

A cada dose,

percebo a cruel porção de realidade a me atingir,

tentando fugir,

como se a correr sem sair do lugar.

Sem nenhum êxito,

engulo a seco,

assim sem gelo,

no velho estilo vulgar de cowboy,

tentando matar apenas a mim mesmo.

Sem perceber que ao fazê-lo,

no fim,

é você quem me destrói.

É estranho,

mas ao passo que fico mais bêbado,

mais me entranho nesse bang-bang,

onde cada porção de sangue que toca o chão,

não pertence a nenhum adversário.

Aqui tudo é meu.

Não há inimigo que seja mais rápido,

ou pense mais veloz,

que meu próprio sentimento atroz.

Nesse imaginário,

nessa eterna culpa,

nada mais compreendo.

E lá vem ele!

Negro corsário,

voraz,

dançando com a morte,

a cavalgar em minha direção,

a me tombar em toda minha falsa compreensão vulgar.

E ela,

a culpa,

a galope,

que me derruba, sem precisar de esforço.

Em meu dorso,

tantas marcas.

Marcas que o homem comum não vê, pois não são deste mundo.

A garrafa para além da metade,

me faz reconhecer o bandido travestido com sua bela imagem.

São seus cabelos,

seu rosto de anjo,

mas é fúria que sinto a arrepiar meus pêlos.

Conforme se aproxima, percebo meu fim.

E desejaria não sabê-lo,

mas vens a mim.

E é merecido o castigo.

Que venha todo o mal.

White Horse, leio no rótulo.

No lamaçal onde atolo suas lembranças,

doce ironia,

no devaneio dessa tua herança,

nada de branco se faz,

nele jaz,

a negra cor de minha agonia.

Raphael Moura
Enviado por Raphael Moura em 28/02/2015
Reeditado em 28/02/2015
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