O VENENO É LÍQUIDO

Se decidir, teu coração, por ser rocha...

que seja granito.

Imune à infiltrações, preservará sua imagem,

sua reputação, sua consistência.

Mas preferindo ser calcário: maleável, cordato,

amigo das águas (de toda monta, inclusive)

perceberá, passado os tempos,

o sedimento impuro constituído.

Porque também os venenos são líquidos,

que destroem irreparavelmente suas artérias,

e acumulam o ácido corrosivo.

.......

Sentirá suas trincas transportando a substância maligna,

como as veias vivas que já foram e que levavam vida.

Desesperadamente acumulará limbos

na tentativa de proteger-se...

mas o tornarão tão esquivo e perigoso

quanto a própria substância infiltradora.

Depois, findo os tempos,

a essência já transformada,

tentará gritar, mas esqueça:

um possível socorro seria tardio.

E o processo diluidor reduzirá

teu sentimental órgão

ao pó, ainda em vida,

e impregnará o resultado

na química rude da pobreza...

A cal de baixo preço,

ainda que branca,

estará envenenada...

E permanecerá impregnada sob a tinta cara

(desculpa para todas as petro-guerras),

sob os "velhos quadros das lembranças,

nas novas e sólidas paredes das memórias".

Porque assim meu coração já caminha:

apenas esperando a total diluição.

www.elanpelaescrita.blogspot.com.br

Marisa Silveira Bicudo
Enviado por Marisa Silveira Bicudo em 25/02/2015
Reeditado em 19/07/2015
Código do texto: T5149766
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