O VENENO É LÍQUIDO
Se decidir, teu coração, por ser rocha...
que seja granito.
Imune à infiltrações, preservará sua imagem,
sua reputação, sua consistência.
Mas preferindo ser calcário: maleável, cordato,
amigo das águas (de toda monta, inclusive)
perceberá, passado os tempos,
o sedimento impuro constituído.
Porque também os venenos são líquidos,
que destroem irreparavelmente suas artérias,
e acumulam o ácido corrosivo.
.......
Sentirá suas trincas transportando a substância maligna,
como as veias vivas que já foram e que levavam vida.
Desesperadamente acumulará limbos
na tentativa de proteger-se...
mas o tornarão tão esquivo e perigoso
quanto a própria substância infiltradora.
Depois, findo os tempos,
a essência já transformada,
tentará gritar, mas esqueça:
um possível socorro seria tardio.
E o processo diluidor reduzirá
teu sentimental órgão
ao pó, ainda em vida,
e impregnará o resultado
na química rude da pobreza...
A cal de baixo preço,
ainda que branca,
estará envenenada...
E permanecerá impregnada sob a tinta cara
(desculpa para todas as petro-guerras),
sob os "velhos quadros das lembranças,
nas novas e sólidas paredes das memórias".
Porque assim meu coração já caminha:
apenas esperando a total diluição.
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