TEU SEMBLANTE, MEU ESPELHO

Pulverulenta veste

Teima em me ocultar

(já não sou mais tão meu).

Presunto enlatado, retroativo

Já não tenho dentes a ranger à noite

(queima ao me usar).

Estou sufocado neste parêntese de inferno

Não suporto mais a minha dor

Fere-me com teus olhares enviesados

(ata-me com a fúria e com o gozo)

Desta podridão entorpecida

Deste cadavérico passo que ouço.

(Já não sei muito de ti)

Reluto por essas coisinhas agigantadas

Teu semblante de óculos por trás dos sinos

Verdejam-me, mansamente.

Por tudo que sei e arrebanhei por nós

Solicito às vozes apocalípticas

Que me enterrem na clausura que é remela

Em nome dum sábio

(em nome do espelho).

Cesar Poletto
Enviado por Cesar Poletto em 04/06/2007
Reeditado em 17/11/2008
Código do texto: T513977
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