não apague a luz
Quem nunca teve medo do escuro, ou dos males que, supostamente, nele existem? Quem nunca desenhou vultos, viu, correu, se cobriu e dormiu? O acolchoado sempre protegeu os (nem tanto) amantes da escuridão e da noite.
Quantas vezes você já deitou, de lado, com o corpo encolhido achando que assim estaria protegido? A posição, que muitas vezes, a criança busca no ventre da mãe. Ah, como é bom imaginar que estamos no casulo, sempre que sentimos medo. Ou, como se tudo fosse embora, com o bater das asas que nos abrigam.
Noites apertando o travesseiro, entre lágrimas (ou não). Dias, sonhando!
Quem nunca imaginou um futuro melhor, entre os sonhos, que deixe de sonhar. E quem já deixou de sonhar, que deixe de viver. Uma vida sem sonhos é uma vida vazia, sem alegrias ou tristezas. O ser humano sente falta até de ser triste. Afinal quantas vezes você pensou "eu estou em um pesadelo, só pode!", e quantas poucas vezes parou para pensar que, de qualquer forma, você precisava de uma realização tristonha e pessoal, para ter o suor do corpo, ou as lágrimas dos olhos, valorizados?
O fácil nem sempre é. Os sonhos, bons, nem sempre são. Acordar em uma realidade diferente da que se sonha é ruim, até faz arder as feridas do coração. Mas é preciso perceber que existe uma suposta realidade tão boa e invisível. E, também, o quanto é aconchegante acordar com o coração disparado, de medo, e perceber que a vida que se tem é isso aí, sem luxos na felicidade. Porém, nem tão assustadora quanto nos pesadelos. Mesmo, porque, diferentemente dos sonhos e pesadelos, para a vida, não basta acordar para passar. Muitas vezes, as coisas são bem piores ao acordar, e isso é meio sem saída. Pois para morrer, basta estar vivo e para ser infeliz, basta cair.
Não existe nada mais natural do que sentir medo do escuro, querer
voltar ao ventre da mãe, ou sonhar. É um tudo que acaba em sossego e se não for, ao menos, é a procura por ele.
Então você deita, aperta o travesseiro, fecha os olhos e espera a
hora passar. Então, o plano muda, a alma migra, e viramos apenas o que queremos.
Sonhando, por vontade, ou não, a vida continua sendo o mesmo deserto de ilusões, não importando a cor, ou a dor, do tempo.