Spetáculus

Abrem-se as cortinas: Aos pulos, bailarinas se entregam às pontas dos pés.

Matam-se por dentro, mas engolem o lamento ao polir todo o convés.

O palhaço é infalível, e o picadeiro combustível para sua existência adotada por um lúdico rubor.

Mas quando chega à hora séria? Se embebedam com a verdade, ou apenas pintam um sorriso maior?

Acabam-se os prantos enquanto os saltimbancos saltam sob a lona.

Jogam-se à platéia, atiçam a alcatéia, e depois esquecem toda a fama.

Os mímicos encantam, importunam e espantam com o gritar do seu sigilo.

Vivem na iminência de perder toda a decência da carinhosa quietude do martírio.

Com elegância surge o mágico pronto para transmutar sua vida e fazer sumir toda e qualquer cicatriz.

E depois perguntado: “Por que não deu certo?”, “Nada nessa mão! Nada nessa outra!”, é o que ele diz.

O ventríloquo passa a palavra a sua mão. Muito embora a emoção sempre a deixe engasgada.

E num de seus poucos gestos, se explica por completo a multidão mais afastada.

Mas e agora? Não há palhaço a sorrir, mímico a perseguir ou bailarina a conseguir...

Não há lugar sem privilégio, sentimento sem sacrilégio... Não há mais história a sentir.

Cortam suas relações, rugindo a lá leões desafiando seu açoite.

Acabam-se as atrações com a partida dos vagões, mas quem sabe outra noite?!

Fecham-se as cortinas.

(Lucas Emanoel.) - LEUS

Dededa Solar e Lucas Emanoel
Enviado por Dededa Solar em 13/02/2015
Código do texto: T5136426
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