Spetáculus
Abrem-se as cortinas: Aos pulos, bailarinas se entregam às pontas dos pés.
Matam-se por dentro, mas engolem o lamento ao polir todo o convés.
O palhaço é infalível, e o picadeiro combustível para sua existência adotada por um lúdico rubor.
Mas quando chega à hora séria? Se embebedam com a verdade, ou apenas pintam um sorriso maior?
Acabam-se os prantos enquanto os saltimbancos saltam sob a lona.
Jogam-se à platéia, atiçam a alcatéia, e depois esquecem toda a fama.
Os mímicos encantam, importunam e espantam com o gritar do seu sigilo.
Vivem na iminência de perder toda a decência da carinhosa quietude do martírio.
Com elegância surge o mágico pronto para transmutar sua vida e fazer sumir toda e qualquer cicatriz.
E depois perguntado: “Por que não deu certo?”, “Nada nessa mão! Nada nessa outra!”, é o que ele diz.
O ventríloquo passa a palavra a sua mão. Muito embora a emoção sempre a deixe engasgada.
E num de seus poucos gestos, se explica por completo a multidão mais afastada.
Mas e agora? Não há palhaço a sorrir, mímico a perseguir ou bailarina a conseguir...
Não há lugar sem privilégio, sentimento sem sacrilégio... Não há mais história a sentir.
Cortam suas relações, rugindo a lá leões desafiando seu açoite.
Acabam-se as atrações com a partida dos vagões, mas quem sabe outra noite?!
Fecham-se as cortinas.
(Lucas Emanoel.) - LEUS