[Menos que um cão]
02h45... e tudo em paz sobre a noite criminosa do Desterro!
Ao longe, os cães latem para o Incompreensível que lhes toca perceber.
E penso: quando a asa escura do Incompreensível me toca,
a minha reação não é, historicamente, nada melhor [ou superior] a dos cães,
pois, sem o dom de latir, eu apenas escrevo, e isto nunca me basta!
Diferente dos cães, eu não tenho talento para espalhar mistérios na noite erma,
eu já disse: eu apenas e tão somente escrevo!
Ah, em tempo: nenhum galo cantou ainda...
nem mesmo aquele que erra [será?] a hora.
Mas é óbvio [ou deveria ser]: na Natureza, cada coisa ocupa o seu lugar!
E a Natureza é mesmo inflexível:
quem nasceu para galo não tem talento para cão,
e quanto àquele que [se] julga ter nascido poeta,
ah, este então... coitado: vale menos que um cão!
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[Desterro, 12 de fevereiro de 2015]