Dramalogia Refletida

Sabe aquelas figuras com as quais você sonha em noites de pesadelo? Pois bem, eu as vi. Estavam todas alinhadas, lado a lado, como cinco ou sete bonecas de porcelana, me olhando fuzilante nos olhos,

pelo espelho lambuzado em confissões.

Uma era completamente alegre. Me fez de amigo e de palhaço, cantando temas da verdade. Traduzindo inteiramente seu cinza

para sua língua de risos. Sua vizinha era tristonha, claro, me deixando de fato preocupado. A morte lhe cairia tão bem naquele dia - melhor do que qualquer remédio. Melhor do que qualquer salvação.

Um comentário indecente, uma resposta coerente. Minhas duas amigas opostas, brigando e se amando como dois irmãos no mesmo quarto. Era tão clara sua mistura que me perguntava: Quem será o intelecto? Quem será o trapalhão? A resposta logo veio com um trumbicão. Deixou uma outra mal-humorada e de punho fechado à mão. Outra face se revoltou e de sua boca saíram espinhos, nervosos, sutis e constantes como uma tesoura, cortando reto sem controle.

Aquilo me parecia um ultraje, uma divertida ofensa brincando lentamente de vida e morte. Beirava a loucura do normal. Intocável pela placa congelada, estabelecendo o limite da insanidade permitida,

mas refletindo a imagem do lugar onde faces medonhas se intercruzavam.

Ainda olhei para um cantinho e vi uma que parecia um passarinho. Tímido e escondido, sem olhar a baixaria. Apenas pensando em como estaria eu naquele momento. E em quem seria eu naquele tormento?

Sabe aquelas figuras, com as quais você sonha em noites de pesadelo? Pois é, eu as vi. Estavam reunidas e espalhadas por todo o meu espelho. Faces brancas de teatro mergulhadas em pleno drama líquido. Sorrindo, chorando e ouvindo. Me contando, enquanto me assombravam, o quão variado eu poderia ser, bastando apenas escolher.

Douglas Ibanez
Enviado por Douglas Ibanez em 12/02/2015
Reeditado em 13/02/2015
Código do texto: T5134820
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