Simplesmente Artesã

Sou artesã. Trabalho palavras, matérias e sentimentos. Teço pedacinhos da minha história com o carinho de uma rendeira. Pinto meus momentos com as cores que melhor colorem minha alma. Matizo sentimentos. Com ornamentos enfeito meu dia e exponho tudo em lindos sorrisos. Seleciono minuciosamente a matéria humana que me cerca: família (sim, devemos selecionar nossos familiares, nem todos merecem nosso apreço), colegas, e na caixinha que chamo de coração mantenho meus amigos. Meus amores têm temáticas variadas, descrevo-os em entrelinhas de textos ora bem produzidos, ora escritos desastrosamente tal qual realmente foram. Cada tecido, cada remendo (quando há) recebe pigmentos de emoção: claros como a felicidade, opacos como a solidão, translúcidos como o amor deve ser, cintilantes como o olhar de quem se ama. Planejo cada projeto de viver, rascunho meu cotidiano, rabisco minhas ilusões para, em seguida, arremessá-los na lixeira (a melhor companheira de um escritor, quem duvida?). Mas é no improvável improviso que consigo produzir o melhor de minha arte: a minha história. Da minha vida sou simplesmente artesã.