Queria te acordar da memória
Queria te acordar da memória e como rio emprenhar-me das coisas tuas e libertar-me das coisas tuas, extrair de mim todas as tuas vidas, extrair-te da minha vida para viver das coisas que não são tuas. Mas agora é tarde amor, o céu está em ti, o céu está em nós, nos caminhos de estrelas que construímos enquanto nos amávamos por entre as palavras que construímos, por todos os cantos das nossas cidades que se misturam alucinadas e em êxtase. Agora é tarde e tu subsistes como uma lâmpada sempre ao fim do caminho, tu subsistes e madrugas nas coisas que são minhas, sussurras dentro do meu olhar como as marés, estás no vento que açoita meus cabelos, em todas estações do ano e na paixão e na ternura de uma manhã desconhecida. E porque brincas de querer-me e não te arvoras a vir, queria te acordar da memória e como rio subsistir em ti até que morras de amor, até que o sol apareça, até que sejamos extenuados de nós.