A Lautréamont
Erigi um Panteão, e nele coloquei apenas um retrato; no centro do salão se ergue, triunfante e ocupando a parede toda, o sombrio retrato do Montevideano, pálido, com os olhos vácuos e negros refletindo a perversidade, sobrepondo-se a uma paisagem marítima na qual um navio em chamas desliza como uma salamandra no horizonte.
Seria sublime se todos os escritores fossem como você, Lautréamont! Como precisamos de um novo Maldoror nesta Terra, para incutir o belo sentimento da discórdia e do ódio entre os corações humanos! Como precisamos de um homem de visão tão ampla como você! A monotonia do amor impera sobre a literatura, e tudo fede ao perfume aguado do sentimentalismo! Comerei meu chapéu no dia em que alguém cantar tão lindamente sobre a beleza da crueldade como tu cantaste; beleza que poucos afortunados, muito poucos, podem enxergar.
Ofereço-lhe este pútrido salmo em sacrifício, Senhor Deus; e em troca, manda-me teu Maldoror para estraçalhar a todos os pomposos e eruditos pavões da Academia, e trazer-me suas cabeças em bandejas de merda, pois são indignos da prata tocada por Salomé para assassinar o Batista.