Sangue de quem, Estevão?
É já alta madrugada quando Estevão sai da festa no inferninho do Estácio. Bebeu e farreou como sempre. Tateia, procurando o seu carro na garagem e cambaleia, apoiando-se no muro próximo,
manchando de sangue a parede.
Sangue de quem, Estevão? Teria o homem cortado as mãos com alguma coisa? Não, nem sinal disso. O sangue era dos que ele vai matar, hoje ainda, ao dirigir bêbado. Mas como?!? Num lapso do tecido da existência no espaço-tempo, ou num milagre (conforme for a crença do leitor) o sangue apareceu nas suas mãos, antes do acontecido.
Se fosse crente, Estevão reconheceria o sinal. Se, ao menos, o cachaceiro fosse leitor de literatura de fantasia ou, quem sabe, supersticioso, desistiria da viagem. Mas o ho-mem tem, isso sim, uma fé inabalável na sua capacidade de guiar e não esmorece nem nas piores adversidades ou problemas. Visto que não ficara impressionado e nem se abalara, pôs a máquina pra funcionar e partiu da garagem, rumo à escuridão da estrada,
alcoolizado e ensangüentado...