Caminhos tortos

Estavam o crente e o apóstata no enterro do parente anarquista a olharem o esquife ser sepultado bem devagar...

– Que caminhos tortos são os nossos, não é? – Disse o ateu de repente. – Ele foi um homem de grandes ideias e ideais, mas tudo acabou, está debaixo da terra.

– Aprendi que nas vicissitudes forjam-se os melho-res guerreiros. E que Deus dá as maiores batalhas a esses mesmos guerreiros.

– Do que você está falando? Perguntou o descrente.

Que batalhas? E que guerreiros?

– Falo da vida meu amigo, falo da vida e de tudo o que somos e havemos de ser perante os desígnios de Deus.

– Que desígnios são esses? – Inquiriu novamente o ateísta. Deus não dá o livre-arbítrio? Não é ele bondade suprema?

Então o crente se calou. Inútil argumentar com al-guém que ignora que Deus olha por todos, até pelos apóstatas.

– Tá bom, tá bom, já entendi. O silêncio é a melhor resposta. Mas só me diga uma coisa: Quem diria, logo você defendendo o morto?

Não importa o que se diga a tal pessoa, pensou o crente, você acaba caindo no nível dela e ela te vence por experiência.

– Sei porque você ficou calado. Mas não importa, é como dizem, a vida continua.

– Sim, a vida continua prá quem ainda vive. Caminhemos com nossos caminhos tortos, esperando que possamos nos ver no juízo final ou ao virar a esquina; tanto faz... – finalizou o crente, por educação.

Mauricio Duarte (Divyam Anuragi)
Enviado por Mauricio Duarte (Divyam Anuragi) em 06/02/2015
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