Caminhos tortos
Estavam o crente e o apóstata no enterro do parente anarquista a olharem o esquife ser sepultado bem devagar...
– Que caminhos tortos são os nossos, não é? – Disse o ateu de repente. – Ele foi um homem de grandes ideias e ideais, mas tudo acabou, está debaixo da terra.
– Aprendi que nas vicissitudes forjam-se os melho-res guerreiros. E que Deus dá as maiores batalhas a esses mesmos guerreiros.
– Do que você está falando? Perguntou o descrente.
Que batalhas? E que guerreiros?
– Falo da vida meu amigo, falo da vida e de tudo o que somos e havemos de ser perante os desígnios de Deus.
– Que desígnios são esses? – Inquiriu novamente o ateísta. Deus não dá o livre-arbítrio? Não é ele bondade suprema?
Então o crente se calou. Inútil argumentar com al-guém que ignora que Deus olha por todos, até pelos apóstatas.
– Tá bom, tá bom, já entendi. O silêncio é a melhor resposta. Mas só me diga uma coisa: Quem diria, logo você defendendo o morto?
Não importa o que se diga a tal pessoa, pensou o crente, você acaba caindo no nível dela e ela te vence por experiência.
– Sei porque você ficou calado. Mas não importa, é como dizem, a vida continua.
– Sim, a vida continua prá quem ainda vive. Caminhemos com nossos caminhos tortos, esperando que possamos nos ver no juízo final ou ao virar a esquina; tanto faz... – finalizou o crente, por educação.