O que escondo.

Quando a tinha junto a mim eu sorria,

sorria de um jeito tão antigo

que minha alma quase esquecia,

de tudo que já havia vivido e se ferido.

Hoje sem você, continuo a sorrir,

sorrio para tentar esquecer,

já que viver a chorar não é opção.

Às vezes, um falso sorriso é o primeiro passo,

é o desembaraço de tantos nós perdidos em sonhos em vão.

Sorriso estreito, sem direito a pensar.

E tudo acaba por se remontar.

Me obrigo a sonhar para tentar não sofrer

e o peito dói

e a alma cansa

mas apenas sigo,

sabedor de que o paraíso se constrói,

não se alcança.

O passado se relança em temor

no tempo de um piscar

e eu, bucólico que sou,

sempre com medo do escuro,

hoje tenho medo é de amar,

me vejo sentado em cima do muro,

habitando apenas num melancólico limiar.

Completamente inseguro,

já não carrego mais aquele olhar soberano, puro

hoje, denso,

este representa um consenso,

esconde por detrás do pano, um imenso titubear.

Penso,

talvez tão obscuro olhar

possa mais uma vez libertar-se

atirar-se,

com impulso de menino, saltar-me às córneas,

fazer-me novamente enxergar,

mas esse momento ao chegar,

terá meus olhos descrentes

já que atualmente, não existem glórias

que o credenciem a se apresentar.

Por enquanto esse meu olhar

é branco, pálido,

enxerga apenas duas cores,

vê no preto e branco dos amores,

um chão árido, onde nada dá.

Raphael Moura
Enviado por Raphael Moura em 04/02/2015
Reeditado em 15/05/2015
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