DA SEREIA? JÁ NÃO OUÇO MAIS O SEU CANTO

“Levantei-me,
Encarei  a decepção no rosto
Que já não sorria
Ofereci minha coragem nua
E agradeci por minha cura”
(Yasmine Lemos)


Sim, agradeci por minha cura. No peito, a  agulha de marear já não apontava para uma única  direção e eu parti e naveguei  em círculo em águas por  mim conhecidas  até ouvir o grito de terra à vista! E eu deixei que a alegria tomasse conta de mim porque eu sabia que os braços do ser amado correriam abertos na minha direção e eu teria um colo onde descansar a cabeça tão conturbada, embora tivesse que baixá-la diante de uns olhos tristes e prescutadores, que lançariam sobre mim uma censura muda diante de um abandono não explicado. Dizer voltei, seria pouco, mas o que mais poderia dizer diante de quem feri,  por me deixar levar pelo canto da sereia? Acrescentaria alguma coisa dizer que voltei respingada de arrependimento, tristeza e desencanto, passageira de uma embarcação de casco avariado e velas rasgadas?
...E o que senti foi um suave gesto de mão entrelaçar os seus dedos entre os meus cabelos, significando o perdão não merecido mas suplicado. Acho que dormi para acordar entre braços como a querer me guardar e  proteger.
Da sereia? Já não ouço mais o seu canto...
Zélia Maria Freire
Enviado por Zélia Maria Freire em 04/02/2015
Código do texto: T5125526
Classificação de conteúdo: seguro