O conto do canto da janelas da Matriz

O conto do canto da Janela da Matriz.

Dizia que por ali só se passava moça solteira se acompanhada

porque sozinha, no cair da tarde, dava buchicho

se passava a dama com hora certa para a igreja era mula-sem-cabeça

se passava com outra moça, era Maria Bonita

se a saia insistia acima do tornozelo, era mulher-da-vida

e o tricote das 'cumadis' ia crescendo

a confundir com as línguas

os coronéis com relógio de bolso contavam o tempo

do traçar o passo da viuvinha que levava a feira

porque graças ao bom senhor eram viúvas e não desquitadas

as se-pa-ra-das é que rendiam a linha pros caminhos de mesa

enquanto bebiam e murmuravam a vida alheia

o licor esquentava

o bolo queimava

e lenha já era cinza.

Um tricote bonito de todo tamanho

dava pra vestir os pobres espalhados pela feira da porta do mercado

mas esses ninguém reparava.

Até hoje,

cá e acolá ninguém repara.

Mas há de moça solteira andar por lá

pelas bandas desse montesclarear!

Hoje nem acompanhada

nada salva a carreira do rendar.

Ainda dizem que nos casarões os fantasmas assombram as passantes

e digo sem letra e fôrma:

'a verdade é que assombram em todo lugar'!

Anna Beatriz Figueiredo
Enviado por Anna Beatriz Figueiredo em 02/02/2015
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