O conto do canto da janelas da Matriz
O conto do canto da Janela da Matriz.
Dizia que por ali só se passava moça solteira se acompanhada
porque sozinha, no cair da tarde, dava buchicho
se passava a dama com hora certa para a igreja era mula-sem-cabeça
se passava com outra moça, era Maria Bonita
se a saia insistia acima do tornozelo, era mulher-da-vida
e o tricote das 'cumadis' ia crescendo
a confundir com as línguas
os coronéis com relógio de bolso contavam o tempo
do traçar o passo da viuvinha que levava a feira
porque graças ao bom senhor eram viúvas e não desquitadas
as se-pa-ra-das é que rendiam a linha pros caminhos de mesa
enquanto bebiam e murmuravam a vida alheia
o licor esquentava
o bolo queimava
e lenha já era cinza.
Um tricote bonito de todo tamanho
dava pra vestir os pobres espalhados pela feira da porta do mercado
mas esses ninguém reparava.
Até hoje,
cá e acolá ninguém repara.
Mas há de moça solteira andar por lá
pelas bandas desse montesclarear!
Hoje nem acompanhada
nada salva a carreira do rendar.
Ainda dizem que nos casarões os fantasmas assombram as passantes
e digo sem letra e fôrma:
'a verdade é que assombram em todo lugar'!