1 mês que nos desconhecemos
(em 1/1/15)
num canto: alguns papeis amarelados. não por serem antigos, mas por ser aquela a sua cor mesmo. meio novo, meio velho. quando penso no espaço de tempo "alguns meses", não me parece grande coisa. mas é que o espaço que se percorre em um certo tempo é indefinido. aceleramos até não poder mais. é engraçado como dois seres humanos se conhecem. na maioria das vezes, chegam devagarinho, soltam apenas parte da imensidão que são - aliás, sempre soltam apenas parte, somos gigantes demais. e essa parte que soltam tende a ser segura: a chance de convencer o outro de que valemos a pena é bem grande. mas também engraçada essa parte de valer a pena. todo mundo deveria valer, afinal. eu costumo pensar em mim como algo tão ínfimo, um pontinho miserável num universo que se expande a cada segundo. mas também sei o quanto sou grande, sei o quanto sou válida. minhas ações não atrapalham o movimento das coisas, o mundo continua girando, mas algumas delas podem atrapalhar quem passa por perto, quem sente vontade de ficar. até meu pensamento consegue atrapalhar a mim mesma. quando me vejo do jeito que estou, viciada em palavras e sem conseguir controlar o ritmo que as lembranças e os desejos se misturam em minha mente, vejo que estou completamente atrapalhada. depois de conhecer, a gente descobre o outro. vai descobrindo devagarinho o que ele não contou, o que deixou escondido com medo de atrapalhar a fase de "conhecer". a gente descobre um monte de coisa, tem várias surpresas, boas e ruins. se a gente quer mesmo ficar, aceita o que dá, releva, ignora ou aprende a gostar. o amor é uma das coisas mais estranhas e também mais simples que existem no mundo. ele faz a gente rir dos defeitos, torna o outro especial pelas chatices, pelas loucuras, pela imperfeição. é estranho, não é? mas também é simples. eu amo por amar. amo quando penso que o pouquinho que conheci virou uma descoberta incrível. as pessoas são grandiosas. pro bem e pro mal. bem e mal? não sei se ainda acredito nisso. costumava separar os lados com um muro bem grande, mas agora a linha é tênue e vivo trocando de lado. o mal de quem? o sofrimento de um não implica no sofrimento do outro. bom, então não é mais amor, certo? não pode mais ser amor se não importa. a indiferença é menos amor que a raiva, não tenho dúvidas. a raiva fala. reclama, desgasta, implica, enche o saco. a indiferença é o vazio. todo mundo já ouviu falar de limbo. em situações variadas, mas ouviu. estou no limbo, eu acho. uma vez vi um filme sobre sonhos, A Origem. é um filme meio complicado, assisti 3 vezes pra compreender tudo o que ele guardava (e nem sei se compreendi), mas havia um limbo. era uma cidade sonhada, planejada por muito tempo, após todo os sonhos, mas cheia de segredos. era possível viver lá por muito tempo. quando será que vou sair? às vezes esse céu e esse mar azul mais parecem parte de uma pintura que não posso tocar. o céu não posso, realmente. será que essa invenção de que as pessoas boas que morrem vão pro céu tem a ver com o desejo que, acredito, muita gente tenha de tocá-lo? talvez uma recompensa dessas, impossível no mundo real, sirva de consolo e estímulo. mas o céu não é concreto. como vou tocar o que não é concreto? como posso, em sonho, sentir tua pele, se ela não existe mais pra mim? como posso, em sonho, olhar nos teus olhos, ouvir a música, deitar em tua cama, te pedir um copo d'água e receber "não" como resposta? como posso, se isso não é mais real? eu juro que te enxergo no sofá que está na minha frente. eu juro que te enxergo, e é perturbador. eu só queria um abraço, ou te conhecer de novo. te apresentaria a minha versão menos ferida e depois descobririas algumas coisas. eu não deixaria mais minha família atrapalhar, estaria mais forte e mais firme. então descobririas que eu posso chegar ao fundo do poço, mas eu não chegaria. ficaríamos juntos. ou, ao menos, seríamos amigos. mas serias concreto. não serias só sonho. serias real. és real em mim...