Eu recuso o silêncio
Eu recuso o silêncio e a cidade clareia meus olhos de mar. Quero amar-te e tu não vens, e meus olhos povoam-se de milagres por onde se esvai a canção das minhas mágoas, e ainda resta um rastro de luz no caminho. E mesmo que eu me vá, meus poemas serão ondas a quebrar nas tuas encostas, repleto das coisas certas de nós. Mesmo que eu me vá, amor, ainda assim serei tua, por todos os versos em que morrestes em mim para renascer nas tuas ruas desnudas, a roubar o tempo que nos roubou de nós. Eu recuso o silêncio e a cidade esmorece em teus braços, e as luzes se acendem em tuas semicerradas pálpebras por onde meus olhos vislumbram horizontes imprevisíveis e palavras que penetram e se findam nos cheiros das manhãs sem resposta.