Psicografia
Formas leves, vaporosas, formas densas, formas que dão forma ao amargor das horas tristes... A noite despenca sobre o dia e não há luzes estelares – nem mesmo um pixel de luz artificial. Na verdade, não há luz alguma: Resta apenas uma lua morta, cinza-chumbo, em sua órbita comum. É natural que o tédio venha acompanhado de uma melancolia pré-matura.
Ladra da tarde, dona da escuridão... A noite faz-se viva no vazio de minha alma translúcida que, aos poucos, desfolha-se sem nunca ter dado frutos.
Feito o soldado que desesperado atira sem precisão alguma – eu atiro palavras descompassadas contra o vento que me afaga. Não ouço o calor de uma resposta acolhedora, nem sinto o peso e o conforto de um abraço. Estou tão só nesta noite infinda. Estou simplesmente só – como estive em grande parte de minha vida.
Este mar de lama que meus pés conhecem tanto faz-se presente em meu trajeto. Vagueio à esmo, sigo vagando à noite extrema, buscando um foco de luz qualquer. Conheço cada árvore, cada pedra, cada espinho, cada inseto, cada cheiro, cada essência deste caminho tormentuoso. Estou preso em um cárcere de mágoas e remorsos, sem objetivos, sem persuasão, sem alguém que segure minhas mãos e sussurre: “Esse é o caminho”.
Estou longe dos mares... Das ondas que batizaram meu corpo; do ambiente celular que me compõe. Estou suspenso, já sinto meus pés levitarem... Porém, quando abro os olhos e sinto a brisa do mar, o perfume das flores no jardim e os raios de sol, acordo... Acordo e, na esperança de enxergar algo, esbarro em cheio no infinito obscuro de mim mesmo!
27 de janeiro de 2015.