SINGELOS ENCONTROS
...e este telefone que toca. Quem será que ousa quebrar este momento tão puro? O que será que este alguém quer comigo neste instante? Atendo ou não atendo? Mas preciso saber; averiguar. Assim, corro o olho sobre o visor do telefone... Ah! É você! Bem sei o que quer comigo! Nossos pensamentos conectam-se. Não posso me curvar. Não me curvarei já que você me tirou de uma sintonia profunda. Vou extasiar-me contigo! E já corro por uma rua movimentada, e as pessoas ao meu lado parecem andar em câmera lenta, ou sou eu quem continuo embriagado, extasiado pelo desejo que ainda não fugiu de mim? E apitos ensurdecedores até tentam me tirar do delírio de agora, mas não, a sensação que corre em meu cérebro é forte demais, intensa demais. Você abre a porta em sorriso e fala coisas que não ouço, ou talvez não compreenda com exatidão. Só vejo você em minha frente, e nossas bocas se tocam e se calam falando dessa sensação que nos queima. E nossas mãos estão afoitas e impulsivas, e nossas línguas agem sem qualquer pudor; sugam algum jorro e se alimentam desta vontade que nos mantêm vivos e ausentes aos demais acontecimentos. E é quando gozamos, urramos, extasiamo-nos... E você permanece inerte na cama dentre lençóis marcados com o suor dos nossos afogamentos, então sorrio, dou gargalhadas soltas e te convido a sorri comigo e você a principio fica sem entender os motivos das gaitadas, mas logo você também abre um sorriso solto, manso; sorriso de quem diz que quer um pouco a mais de mim, de nós. Avançamos devagar, e nossos risos se diluem, nossos corpos outra vez se lambuzam, se ingerem, se penetram, se pertencem, se entranham... E depois do gozo eu sei que preciso ir, é hora de deixar você, e você até insiste para que eu fique, mas não posso, não quero, não devo ficar, senão o encanto irá se quebrar, senão os caminhos se cruzarão demais e eu não sei o que quero além desses singelos encontros onde nos mesclamos sem maiores complicações...