Se você não vem.

Escrevo-te todos os dias palavras que não te alcançam.

Que antes mesmo de chegar a ti pulam pelo vão da janela.

Se estabacam no entre o vão do portão.

E logo são pisadas pelos distraídos que não as enxergam.

Escrevo-te como num conto, duas ou mais histórias entrelaçadas.

Sem finais feliz, beirando ao labirinto de Kafka.

Sem rima pronto.

Há tempo em que nós não rimamos, há tempos não rimos.

E o céu azul lá fora, as horas, os dias.

Incontáveis vezes que me despeço de ti.

Tem dias que o mal estar é aqui.

Maltrata por muito, desamor por pouco.

Os poemas já não te fiz,

As canções já não cantei,

Os filmes que eu perdi

Foram razões para perder.

Maltrata um pedaço de minha alma já comprada

Um detalhe extenso de minha jornada

Maltrata o tudo, mas nunca chega a nada.

Só para constar nos registros do carrasco,

Do inquisitor, do juiz e do promotor:

Sinto saudades.

Dolorosa verdade.

Se você não vem,

Eu sou ninguém.