[02h55 - Como amanhecer]

Mais uma vez, eu olho pela janela o avanço da noite sobre o nada... ao longe, os cães latem para o ermo escuro pousado sobre a extensa vazante do Rio Paraíba. Ah, se eu estivesse em Goiás, outro seria o rio, outra a noite...

Acordar na madrugada dá insto: aonde ir agora? Entrar no carro e vaguear, ir para a "Boate Azul" da avenida? Meia-hora de amor não vale um Real, não é amor, e não vale nada! Dia seguinte, estarei pior que antes... já tentei essa fuga! Isto é um péssimo amanhecer, mas às vezes, se bate o desespero, a gente cata papel na ventania!

Amanhecer bem... quase assim: levemente inebriado por um perfume suave, pernas enlaçadas, mãos tateantes e amplidão macia de um abraço — é uma empreitada difícil, quase impossível! Como é que não me avisaram disso?! Como é que ninguém me ensinou que amanhecer [bem] é uma arte?! Será que só eu, só eu!?

"Como amanhecer" — é o nome da lição que eu não aprendi! Ah, uns dedinhos de "Jack Daniels"... quem sabe me destrava a garganta!? Distância é veneno amargo, lento... A ficção é outra arte que eu não aprendi!

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[Desterro, 24 de janeiro de 2015]

Carlos Rodolfo Stopa
Enviado por Carlos Rodolfo Stopa em 24/01/2015
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