Mudanças

Apesar dos olhos fechados, ela queria ver. E mais do que ver, ela queria fazer enxergar. Queria mostrar novos mundos, percepções, aventuras, alternativas, sonhos. Queria fazer entender que tudo cabia dentro de um só amor, de uma comunhão de idéias, de uma só vontade: a decisão de tornar-se um.

A sensação era, às vezes, de que ela nunca conseguiria. A janela estava fechada, a porta, trancada e o muro era alto demais. Mas se houvesse uma brecha, uma rachadura, bastasse um descuido do cão que fazia a guarda e ela entraria, mudaria tudo de lugar, traria o céu para dentro daquele coração.

Ela sempre foi otimista, sonhadora, fraterna. Mas agora que ela percebeu que o mundo sempre prejudica quem é assim, ela quer além disso ser mais inteligente para discernir quem a quer mal e quem a quer bem, ou simplesmente, quem não se importa com ela. Talvez porque não vale a pena desperdiçar energia com quem não merece atenção, carinho e amor. Talvez porque ela queira faze-lo enxergar quem ela é e quem ela está aprendendo a ser. Talvez porque ela queira crescer e ser adulta, decidida, sóbria. Acho que ela quer amadurecer, casar, ter filhos, ser feliz. Lavar a louça depois do jantar. Sorrir ao amanhecer. Mas na verdade, ela quer tudo isso junto - o que é muito bom.

Do telhado ela observa a rua. Os carros passam, ciclistas, pedestres, namorados, amigos, estranhos que caminham lado a lado ao infinito. E ela, ela fica. Todos passam por ela como se ela fosse um poste de luz: ninguém a repara, ninguém espera por ela. Ninguém compreende que não é sua culpa o fato de a companhia energética não ter trocado a lâmpada que queimou. Mas quando a lua aparece, a escuridão de sua ausência é colocada na noite.

Ela não vai deixar de sonhar, nem de lutar por seus sonhos. E o mundo, esse não vai derrota-la: sempre haverá batalhas a vencer! E por mais que um erro a derrube, ela nunca vai desistir de ser feliz. Porque Deus não a fez para sofrer, mas para ajudar as pessoas a serem felizes. E Ele há de mostrar o caminho. Sempre.

Escrito em 11 de abril de 2007.

Sabrina Araújo
Enviado por Sabrina Araújo em 02/06/2007
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