Meus novos amigos de madeira
Apertei os olhos e vi aquilo. Era verdade? Numa das ruas do centro do Rio era e é comum. Seria aquilo mesmo que eu estava vendo? Uma pessoa encolhida no meio de um monte de farrapos?
Não, era só um monte de panos rasgados, largados no chão por cima de dois caixotes de madeira. Mas bem poderia ser o que eu tinha visto num soslaio da vista. É que, dizem, vemos o que estamos acostumados a ver e o olhar, na percepção visual, completa o que está faltando para visualizar um quadro geral.
Se assim é, os caixotes de madeira empilhados no centro do Rio valem mais do que se fosse um mendigo encolhido porque foram notados, foram vistos por mim.
Eu dei dignidade àqueles caixotes, sem querer, porque olhar duas vezes denota respeito. E daí? Nada de mais. Num mundo materialista, isso teria que acontecer de um jeito ou de outro. Mas resolvi ir fundo na minha constatação.
Cheguei junto dos caixotes e perguntei se estavam precisando de alguma coisa. Eles responderam com um grunhido. Dei um sorriso e estendi algumas moedas para os meus novos amigos de madeira.
Afastei-me depois rapidamente a fim de não tirar-lhes a dignidade com a minha presença de “benfeitor”.
Fui claro nisso; então, os dois caixotes responderam-me com um “Deus lhe pague”. E eu retomei o meu caminho nas ruas do centro do Rio.